quinta-feira, julho 24, 2008

Hemeroteca

Eu até sou daquelas pessoas que vai para a rua defender os interesses dos trabalhadores, nomeadamente contra a perda de direitos adquiridos. Eu até acho fundamental lutar pelas condições laborais na função pública porque, para o bem e para o mal continua a servir de referência (ou desculpa) para a regulação do sector privado, puxando (ou estagnando) a "carroça" dos salários, por exemplo. Mas depois do que me tem acontecido nos últimos tempos acho mesmo que há pessoas que deveriam ser sumariamente despedidas ou, no mínimo, impedidas de acederem a certos cargos, como o atendimento ao público. As más experiências têm-se verificado em serviços como as finanças, a segurança social, a loja do cidadão – em diversos balcões. A última foi na hemeroteca.
Antes de fazer "queixinhas", queria apenas salvaguardar que não estou minimamente a generalizar: em primeiro lugar tenho a certeza que grande parte dos funcionários públicos serão merecedores de um mérito de que muitas vezes se vêem privados, justamente porque outros colegas se comportam da forma que agora denuncio; em segundo lugar, tenho tido também, ao nível da função pública, experiências excelentes no atendimento – sempre estudei no ensino público e fui tendo professores fantásticos, enquanto investigadora sempre fui "mimada" com um atendimento privilegiado na Cinemateca (que até poderá ser alvo de crítica em termos de política cultural, mas em termos de atendimento só tenho elogios a fazer) e desde que sou bolseira também tenho sido muito bem acompanhada na FCT. Mesmo na hemeroteca, o atendimento da recepção foi muito cordial, prático e eficaz: deram-me todas as informações de que precisava, ajudaram-me a preencher as requisições, indicaram-me todos os procedimentos. A coisa complicou-se efectivamente com a subida aos arquivos propriamente ditos.
Em primeiro lugar, os maus modos do atendimento: no segundo andar, onde segundo percebi se concentram as revistas, a senhora tem aquele ar de frete de que parece que nos está a fazer um favor por nos atender (aquele ar que faz vontade de lhe lembrar que também sou eu que lhe pago o ordenado!). Até pedir informações para ir à casa de banho se tornou um problema, como se a minha necessidade fisiológica lhe causasse transtorno. No primeiro andar, onde estão os jornais e respectivos suplementos o senhor era bem mais simpático, ainda que parecesse não ter bem a noção de que lida diariamente com investigadores e jornalistas, que poderão ter necessidades e dúvidas um bocadito mais complicadas que um estudante universitário comum ou que o público em geral (não pretendo tratamento especial, tipo café e bolachinhas, só mesmo uma consciência do tipo de exigência que o trabalho de cada investigador poderá ter).
Em segundo lugar a negligência: quando não se encontra uma coisa à primeira, um periódico de uma determinada data, partem imediatamente do princípio que "não há", sendo que se o investigador procurar à socapa – porque supostamente não devíamos ser nós a ir buscar as coisas às prateleiras – encontramos o que queremos, na pasta do lado, mal arquivado. Se me tivesse vindo embora sem insistir neste método teria consultado apenas metade dos artigos que pretendia e teria ficado sem saber como resolver o problema, porque também não são dadas alternativas de pesquisa.
Em terceiro lugar a falta de brio: ouvi pelo menos por três vezes um funcionário confessar (e não foi baixinho, tipo "à rasca", a desabafar com um colega) que se tinha enganado a passar facturas, com o IVA antigo; os jornais estão cheios de pó – fiquei cheia de alergia – e , antes de serem encadernados, são amarrados com um cordel o que, como é óbvio, degrada as páginas daquele papel fininho, ao fim de tanto amarra e desamarra a corda...
Por último, a falta de profissionalismo: os critério de arquivo não são homogéneos – por exemplo, o jornal Público é arquivado juntamente com os seus suplementos (Y, Mil Folhas, Fugas), enquanto que se quisermos consultar o DNA ou o Actual temos de os requisitar separadamente do Diário de Notícias e do Expresso, respectivamente. A separação até faz sentido no caso dos suplementos em forma de revista, porque o formato é diferente. E mesmo em relação aos outros suplementos, não teria qualquer problema com isso se o critério fosse igual para todos... Mas também me incomoda que o responsável por um arquivo confunda a Xis com o Y. Se enquanto assessora de imprensa isso nunca me teria sido perdoado, porque é que se deve ser condescendente com esta pessoa?
Mesmo assim, sempre era mais competente que a colega que o substituiu durante um bocado, que não sabia onde estava nada, que dizia que tudo o que eu queria estava para encadernar e por isso não podia ser consultado. Fiquei desconfiada e resolvi esperar, porque quando tinha apresentado a requisição ninguém me tinha dito que aqueles artigos não estavam disponíveis. O problema é que as horas estavam a passar – a hemeroteca fecha às 18H, mas só se podem pedir fotocópias até às 17H - e como já tinha perdido muito tempo na espera entre uns periódicos e outros (não, não nos trazem tudo o que precisamos de uma vez, provavelmente por causa do espaço que cada molho de jornais ocupa nas mesas), vi a minha vidinha a andar às avessas. Quando o "responsável" voltou, consultei tudo o que me faltava em aproximadamente meia hora. Quando querem, até sabem ser eficientes...
Esforço-me sempre por ser simpática nestes sítios: dizer boa tarde, pedir por favor e agradecer pelo serviço ou a informação. Sei que o atendimento ao público não deve ser tarefa fácil e que todos temos dias menos bons. Mas um serviço destes não devia permitir que um investigador sentisse: "pelas alminhas, espero nunca mais precisar de regressar à hemeroteca"!

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