terça-feira, janeiro 13, 2009

O Nisco morreu

O nome foi escolhido porque achei piada ao nome do pai do Sócrates (o filósofo, entenda-se): Sofrenisco. A mãe chamava-se Fenareta - imaginem lá o destino do bicho se tivesse sido uma gata...
Por esta altura já devem ter percebido que o Nisco era um gato. Pois deixem que vos corrija: o Nisco era O gato! Era o gato das botas e o gato-cupido, o Garfild e o Hobbes todos num só. Com uma personalidade demasiado parecida com a minha - o que em alguns casos chegou a fazer com que nos assanhássemos mutuamente - era o companheiro privilegiado para a preguiça e para a festinha, para o ronrom e para o "deixa-me-em-paz-sossegado-no-meu-canto".
Estava muito velho, mas foi um gato muito feliz. Até à véspera de Natal... Mas disso ainda não quero falar. Foi demasiado feio e o sofrimento por que ele passou ainda pesa mais do que as saudades boas do meu gordalhufo peludo.
Com o Nisco morreu também um pedaço de mim, da minha história, da minha memória. A casa está vazia, enorme, fria e faz barulhos.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Yes we can...

... ou como um burro preto consegue dar um coice valente a um ELEFANTE BRANCO!





Mesmo quando a esperança se faz de areia, mesmo quando se tem a consciência que não é por ser negro que se é mágico e que nem tudo vai melhorar de um dia para o outro, a vitória de Obama representa um mundo em que quero viver. Mesmo que venha a ser uma desilusão, "hoje eu acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia, de beijar o português da padaria"...

"Yes we can heal this nation. / Yes we can repair this world."

sexta-feira, outubro 24, 2008

Real

Quando estava a tirar a licenciatura lembro-me de termos discutido em muitas aulas a expressão "imagens reais" que então apareciam em algumas reportagens televisivas a legendar as notícias. O que são "imagens reais"? Será que há imagens que não o são? Será que há umas mais reais que outras?
Ultimamente não são poucas as vezes que ouvimos os comentadores falarem de "economia real". Se intuitivamente se percebe facilmente a que é que o conceito se refere, as perguntas podem repetir-se: se há uma parcela da economia que não é "real" será o quê? Irreal? Fantasiosa? Economia-do-faz-de-conta? E só agora é que percebe e reconhece isso?
Às vezes tenho mesmo a sensação que não vivo no mesmo planeta que as outras pessoas...

terça-feira, outubro 14, 2008

Capitalismo intermitente

Quero começar por deixar expresso que eu não percebo nada de economia, finanças ou outras manhas que, nos dias que correm, parecem ser essenciais para poder produzir uma opinião avalizada sobre o assunto. E o assunto é a "crise"!
Estou farta, fartinha que me tentem impingir uma crise que talvez até nem exista ou não precisasse de existir. As notícias (falo das televisivas, porque estou tão farta disto que nem tenho acompanhado a situação pelos jornais) procuram fazer-nos uma lavagem cerebral diariamente e a todas as horas, de tal forma que só parecem existir como temas jornalísticos válidos a dita crise e o futebol.
Se bem me lembro – e tenho sempre a sensação que as pessoas têm memória curta, mas neste caso é demais – a coisa terá começado com a guerra do Iraque, certo? Isso fez subir o preço do petróleo e, a partir daí, todos os outros preços foram atrás, desde os bens essenciais à Euribor. As pessoas e as empresas tiveram então de consumir menos e aumentaram as suas dificuldades em pagar os empréstimos contraídos, o que terá alarmado o sistema bancário e o mercado imobiliário. Por isso não me venham dizer que isto é um problema das bolsas e que não tem nada a ver com o petróleo, porque não consigo engolir...
Em relação a estas últimas a minha perplexidade é ainda maior! O sistema capitalista desenfreado em que vivemos implica que se corram riscos: quem investe na bolsa pode ganhar muito mas, como em qualquer "jogo", tem de ter a consciência que também pode perder. A mim parece-me sinceramente batota que se tenha de "injectar" dinheiro para que determinados indivíduos possam continuar a jogar, a apostar tão alto que os riscos que correm nos afectam a todos. Das duas uma: ou se aceitam as regras e perder é um risco - e agora aguentam-se à bronca – ou assumimos todos que este sistema não serve. Não pode servir só às vezes, quando é conveniente...
Não há dinheiro para o ensino, para a saúde, para criar empregos – é o que nos têm martelado na cabeça nos últimos anos. Mas agora já há "não sei quantos" milhões de euros (e não sei mesmo, porque os números mudam todos os dias) para salvar a garganta de milionários que se têm mantido à nossa conta ao longo destes anos todos. Quando o orçamento familiar de milhares de pessoas vai à falência que é que vem injectar capital para as salvar?
Por isso é que acho que antes de existir uma crise financeira e económica, existe por trás uma crise política e de valores que me parece bem mais grave. Que este sistema não servia, não é novidade para mim; agora que para alguns ele só sirva "às vezes" dá-me vontade de rir...

quinta-feira, julho 24, 2008

Hemeroteca

Eu até sou daquelas pessoas que vai para a rua defender os interesses dos trabalhadores, nomeadamente contra a perda de direitos adquiridos. Eu até acho fundamental lutar pelas condições laborais na função pública porque, para o bem e para o mal continua a servir de referência (ou desculpa) para a regulação do sector privado, puxando (ou estagnando) a "carroça" dos salários, por exemplo. Mas depois do que me tem acontecido nos últimos tempos acho mesmo que há pessoas que deveriam ser sumariamente despedidas ou, no mínimo, impedidas de acederem a certos cargos, como o atendimento ao público. As más experiências têm-se verificado em serviços como as finanças, a segurança social, a loja do cidadão – em diversos balcões. A última foi na hemeroteca.
Antes de fazer "queixinhas", queria apenas salvaguardar que não estou minimamente a generalizar: em primeiro lugar tenho a certeza que grande parte dos funcionários públicos serão merecedores de um mérito de que muitas vezes se vêem privados, justamente porque outros colegas se comportam da forma que agora denuncio; em segundo lugar, tenho tido também, ao nível da função pública, experiências excelentes no atendimento – sempre estudei no ensino público e fui tendo professores fantásticos, enquanto investigadora sempre fui "mimada" com um atendimento privilegiado na Cinemateca (que até poderá ser alvo de crítica em termos de política cultural, mas em termos de atendimento só tenho elogios a fazer) e desde que sou bolseira também tenho sido muito bem acompanhada na FCT. Mesmo na hemeroteca, o atendimento da recepção foi muito cordial, prático e eficaz: deram-me todas as informações de que precisava, ajudaram-me a preencher as requisições, indicaram-me todos os procedimentos. A coisa complicou-se efectivamente com a subida aos arquivos propriamente ditos.
Em primeiro lugar, os maus modos do atendimento: no segundo andar, onde segundo percebi se concentram as revistas, a senhora tem aquele ar de frete de que parece que nos está a fazer um favor por nos atender (aquele ar que faz vontade de lhe lembrar que também sou eu que lhe pago o ordenado!). Até pedir informações para ir à casa de banho se tornou um problema, como se a minha necessidade fisiológica lhe causasse transtorno. No primeiro andar, onde estão os jornais e respectivos suplementos o senhor era bem mais simpático, ainda que parecesse não ter bem a noção de que lida diariamente com investigadores e jornalistas, que poderão ter necessidades e dúvidas um bocadito mais complicadas que um estudante universitário comum ou que o público em geral (não pretendo tratamento especial, tipo café e bolachinhas, só mesmo uma consciência do tipo de exigência que o trabalho de cada investigador poderá ter).
Em segundo lugar a negligência: quando não se encontra uma coisa à primeira, um periódico de uma determinada data, partem imediatamente do princípio que "não há", sendo que se o investigador procurar à socapa – porque supostamente não devíamos ser nós a ir buscar as coisas às prateleiras – encontramos o que queremos, na pasta do lado, mal arquivado. Se me tivesse vindo embora sem insistir neste método teria consultado apenas metade dos artigos que pretendia e teria ficado sem saber como resolver o problema, porque também não são dadas alternativas de pesquisa.
Em terceiro lugar a falta de brio: ouvi pelo menos por três vezes um funcionário confessar (e não foi baixinho, tipo "à rasca", a desabafar com um colega) que se tinha enganado a passar facturas, com o IVA antigo; os jornais estão cheios de pó – fiquei cheia de alergia – e , antes de serem encadernados, são amarrados com um cordel o que, como é óbvio, degrada as páginas daquele papel fininho, ao fim de tanto amarra e desamarra a corda...
Por último, a falta de profissionalismo: os critério de arquivo não são homogéneos – por exemplo, o jornal Público é arquivado juntamente com os seus suplementos (Y, Mil Folhas, Fugas), enquanto que se quisermos consultar o DNA ou o Actual temos de os requisitar separadamente do Diário de Notícias e do Expresso, respectivamente. A separação até faz sentido no caso dos suplementos em forma de revista, porque o formato é diferente. E mesmo em relação aos outros suplementos, não teria qualquer problema com isso se o critério fosse igual para todos... Mas também me incomoda que o responsável por um arquivo confunda a Xis com o Y. Se enquanto assessora de imprensa isso nunca me teria sido perdoado, porque é que se deve ser condescendente com esta pessoa?
Mesmo assim, sempre era mais competente que a colega que o substituiu durante um bocado, que não sabia onde estava nada, que dizia que tudo o que eu queria estava para encadernar e por isso não podia ser consultado. Fiquei desconfiada e resolvi esperar, porque quando tinha apresentado a requisição ninguém me tinha dito que aqueles artigos não estavam disponíveis. O problema é que as horas estavam a passar – a hemeroteca fecha às 18H, mas só se podem pedir fotocópias até às 17H - e como já tinha perdido muito tempo na espera entre uns periódicos e outros (não, não nos trazem tudo o que precisamos de uma vez, provavelmente por causa do espaço que cada molho de jornais ocupa nas mesas), vi a minha vidinha a andar às avessas. Quando o "responsável" voltou, consultei tudo o que me faltava em aproximadamente meia hora. Quando querem, até sabem ser eficientes...
Esforço-me sempre por ser simpática nestes sítios: dizer boa tarde, pedir por favor e agradecer pelo serviço ou a informação. Sei que o atendimento ao público não deve ser tarefa fácil e que todos temos dias menos bons. Mas um serviço destes não devia permitir que um investigador sentisse: "pelas alminhas, espero nunca mais precisar de regressar à hemeroteca"!

domingo, março 02, 2008

Teoria da Conspiração

Tenho uma amiga, por sinal jornalista, que às vezes se mete comigo dizendo que eu gosto de teorias da conspiração. A coisa é meio a brincar mas tem a sua justificação em conversas relativamente sérias, a maior parte das quais relacionada com a minha desconfiança em relação à imprensa em geral (defeito profissional, para quem saiba do que estou a falar).
Ontem houve um caso paradigmático neste sentido: uma manifestação contra os atentados à nossa democracia que se têm vindo a verificar nos últimos tempos. Convocada para o jardim do Príncipe Real, as pessoas eram tantas que a Rua da Escola Politécnica, a D. Pedro V e a Rua do Século tiveram de ser fechadas ao trânsito. Mesmo a pé era difícil andar. Depois desceu até ao Rossio, percurso que eu já não fiz, pelo que não posso testemunhar se houve mais gente ainda ou se as pessoas dispersaram.
A organização estava a cargo do PCP, facto que deixarei ao critério de cada um decidir se é relevante ou não para a minha argumentação, até porque nem sequer estou a puxar a brasa a sardinha nenhuma - sou independente (leia-se não filiada em qualquer partido). Aderi ao evento pela luta por direitos que a minha geração, e todas as que depois dela vieram, raramente se lembram que tiveram de ser conquistados. A duras penas, com vidas... Este país, entre muitos outros males, padece de uma memória repugnantemente curta. Haja quem levante a voz para evocar essa memória, quem quer que seja. Não interessa aqui se é um partido, uma organização humanitária ou antifascista.
Mas, passando ao que me fez escrever este post... Ao fim da tarde, num noticiário televisivo, a peça resumia-se a três planos: um plano fechado, de passeio para passeio - e não em profundidade - na Rua do Século (que para quem não sabe é a descer, pelo que se o plano fosse picado, "de cima para baixo", mostraria todo o mar de gente e não apenas uma fila de manifestantes), um plano com a mesma configuração à passagem pelo Tribunal Constitucional e um plano do discurso de Jerónimo de Sousa.
Paralelamente uma série de outras manifestações, nomeadamente de professores, foram filmadas – e muito bem- em planos abertos, gerais e picados, praças inteiras, jardins ou largos, que permitiam ver a real dimensão humana dessas acções de luta. Mais tarde, já de madrugada, houve um bloco noticioso que se resumiu a três notícias: o conflito entre Israel e a Palestina, os confrontos na Argélia (que ambos muito lamento) e o futebol.
Como se deve compreender, não consegui ver todos os telejornais e não sei se o tratamento dado a esta notícia foi igual em todas as estações, pelo que antecipo as minhas desculpas se estiver a ser injusta com alguma.
Mas, que critérios são estes? Quando estudei comunicação ensinaram-me que, entre outras coisas, a prioridade das notícias deveria ser medida pela quantidade de gente envolvida ou a quem ela afectasse e pela proximidade. Por muito que a conjuntura internacional nos preocupe e nos deva interessar, não é aqui que vivemos? Por muito que, infelizmente, os portugueses se interessem mais por futebol que pela política, não seria mais pedagógico por parte da imprensa relatar que milhares de pessoas estiveram a "abrir a goela" por direitos que são de todos nós e que estamos em risco de perder? Essas pessoas estiveram a "dar o litro" por todos os que estavam no sofá a ver a bola e até por todos os jornalistas parciais que parecem esquecer-se que, há não muitos anos atrás, nunca poderiam ter exercido a sua profissão, muito menos nas condições em que hoje o fazem.
Não sei se é teoria da conspiração, não sei se a parcialidade se limita apenas ao facto de ter sido o PCP a estar à frente da iniciativa, mas tendo estado lá e tendo olhinhos na cara, sinto a minha inteligência insultada e, mais uma vez, a democracia desrespeitada...

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Divagar Devagar




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