domingo, março 02, 2008

Teoria da Conspiração

Tenho uma amiga, por sinal jornalista, que às vezes se mete comigo dizendo que eu gosto de teorias da conspiração. A coisa é meio a brincar mas tem a sua justificação em conversas relativamente sérias, a maior parte das quais relacionada com a minha desconfiança em relação à imprensa em geral (defeito profissional, para quem saiba do que estou a falar).
Ontem houve um caso paradigmático neste sentido: uma manifestação contra os atentados à nossa democracia que se têm vindo a verificar nos últimos tempos. Convocada para o jardim do Príncipe Real, as pessoas eram tantas que a Rua da Escola Politécnica, a D. Pedro V e a Rua do Século tiveram de ser fechadas ao trânsito. Mesmo a pé era difícil andar. Depois desceu até ao Rossio, percurso que eu já não fiz, pelo que não posso testemunhar se houve mais gente ainda ou se as pessoas dispersaram.
A organização estava a cargo do PCP, facto que deixarei ao critério de cada um decidir se é relevante ou não para a minha argumentação, até porque nem sequer estou a puxar a brasa a sardinha nenhuma - sou independente (leia-se não filiada em qualquer partido). Aderi ao evento pela luta por direitos que a minha geração, e todas as que depois dela vieram, raramente se lembram que tiveram de ser conquistados. A duras penas, com vidas... Este país, entre muitos outros males, padece de uma memória repugnantemente curta. Haja quem levante a voz para evocar essa memória, quem quer que seja. Não interessa aqui se é um partido, uma organização humanitária ou antifascista.
Mas, passando ao que me fez escrever este post... Ao fim da tarde, num noticiário televisivo, a peça resumia-se a três planos: um plano fechado, de passeio para passeio - e não em profundidade - na Rua do Século (que para quem não sabe é a descer, pelo que se o plano fosse picado, "de cima para baixo", mostraria todo o mar de gente e não apenas uma fila de manifestantes), um plano com a mesma configuração à passagem pelo Tribunal Constitucional e um plano do discurso de Jerónimo de Sousa.
Paralelamente uma série de outras manifestações, nomeadamente de professores, foram filmadas – e muito bem- em planos abertos, gerais e picados, praças inteiras, jardins ou largos, que permitiam ver a real dimensão humana dessas acções de luta. Mais tarde, já de madrugada, houve um bloco noticioso que se resumiu a três notícias: o conflito entre Israel e a Palestina, os confrontos na Argélia (que ambos muito lamento) e o futebol.
Como se deve compreender, não consegui ver todos os telejornais e não sei se o tratamento dado a esta notícia foi igual em todas as estações, pelo que antecipo as minhas desculpas se estiver a ser injusta com alguma.
Mas, que critérios são estes? Quando estudei comunicação ensinaram-me que, entre outras coisas, a prioridade das notícias deveria ser medida pela quantidade de gente envolvida ou a quem ela afectasse e pela proximidade. Por muito que a conjuntura internacional nos preocupe e nos deva interessar, não é aqui que vivemos? Por muito que, infelizmente, os portugueses se interessem mais por futebol que pela política, não seria mais pedagógico por parte da imprensa relatar que milhares de pessoas estiveram a "abrir a goela" por direitos que são de todos nós e que estamos em risco de perder? Essas pessoas estiveram a "dar o litro" por todos os que estavam no sofá a ver a bola e até por todos os jornalistas parciais que parecem esquecer-se que, há não muitos anos atrás, nunca poderiam ter exercido a sua profissão, muito menos nas condições em que hoje o fazem.
Não sei se é teoria da conspiração, não sei se a parcialidade se limita apenas ao facto de ter sido o PCP a estar à frente da iniciativa, mas tendo estado lá e tendo olhinhos na cara, sinto a minha inteligência insultada e, mais uma vez, a democracia desrespeitada...

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